terça-feira, 11 de maio de 2010

Conto de Fadas - Parte 1.2

    Era uma manhã ensolarada, coisa rara de se acontecer em Aldaria, e Miranna passeava despreocupadamente pelo gramado ainda úmido do orvalho matinal. Atrás de si, a cidade; à frente, uma vastidão de verde. Ela suspirou, olhando em volta, levemente incomodada.

    - Onde ele se meteu..? - murmurou pra si. - Zak está demor--

    - Mama! Mama! Olhe o que eu ganhei!

    A mulher de cabelos longos e castanhos se virou então, um sorriso na face, se agachando para ficar na mesma altura da criança. Aquele era Zakari Natov, seu filho único e amado, a quem dedicava toda a atenção do mundo. O pai havia partido na guerra, e há meses não se tinha notícias do pelotão ao qual o homem fazia parte. "Talvez ele tenha morrido.", a mulher pensava. "Ou talvez não."

    - Diga, meu pequeno. - murmurou, a voz doce, suave. - O que você ganhou?

    - Aqui! - riu o garoto, estendendo uma flor bela, impecavelmente branca. As pétalas pareciam brilhar levemente, refletindo o brilho do sol como diminutos cristais. - Eu ganhei!

    - Ah, é? - Miranna também riu. - De quem?

    - De uma menina que eu encontrei no bosque!

    O sorriso desapareceu, e o pequeno se encolheu ante o olhar severo da mãe, abaixando a cabeça. Conhecia bem aqueles olhos cor de céu: eram os mais gentis do mundo, mas soltavam faíscas quando a mãe se irritava.

    - O bosque. Eu já lhe disse pra não ir lá.

    - D... Desculpa... eu não... - murmurou, estremecendo.

    - ...tudo bem. - suspirou, puxando o filho pra si e afagando-lhe os cabelos numa carícia gentil. - Dessa vez passa. E quem era essa tal garota? Era da cidade?

    - Não, não... Ela mora na floresta, foi o que ela disse!

    - Ah, mesmo? - estranhou.

    - É... e ela tinha um cabelo bonito, mãe, cor de prata! E os olhos também!

    - Um motivo a mais para não retornar lá, e não se meter com essa garota!

    A mulher exclamou, um quê de histeria na voz. Já faziam quase três semanas que a história sobre as damas ardilosas da floresta, que seduziam e sequestravam qualquer homem que caísse em suas garras, fosse criança, jovem, adulto ou velho, já se espalhara dentro dos muros da cidade e inundara o conhecimento popular.

    A cada dia que passava, crescia o número de relatos de maridos, filhos e pais desaparecidos, atraídos pelos encantos do Bosque da Luz. Choviam pedidos aos deuses para que salvassem as famílias, para que os paladinos invadissem a floresta e trouxessem-os de volta, mas nenhuma excursão havia sido bem sucedida: pior, cada uma delas tinha sofrido perdas, com mais homens sequestrados e mulheres brutalmente assassinadas.

    - Nunca mais volte lá. Nunca. Pelo amor de todos os deuses... nunca mais! Prometa!

    - T... tá... Eu... - Zakari encarou-a, confuso. Quando fora a última vez que vira a mãe tão... desesperada? - Eu prometo, mama...

    - ...obrigada. - murmurou, respirando fundo, tentando manter a calma. Miranna passou a mão no rosto, secando o suor frio que brotara em sua testa. - A... agora... vamos pra casa..?

    A mulher levantou, carregando o pequeno consigo, e caminhou pelo caminho de terra batida, de volta à segurança da cidade, não sem antes dar um último olhar ao campo verdejante. E então, uma visão fez com que ela soltasse um grito agudo, correndo para dentro de Aldaria, branca como um papel. Era uma criança, uma menina da idade de seu filho.

    Uma menina de olhos e cabelos prateados.

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